Equipe no estacionamento da prefeitura de Santo André, aguardando o retorno de Brinquinho |
Foi na sexta-feira (27) que a surpresa chegou à redação em forma de uma ligação telefônica. Ademir Miranda, o Brinquinho, acusado de participar do assassinato do ex-prefeito de Rio Grande da Serra, José Carlos Arruda, o Carlão, estava solto e queria dar uma entrevista exclusiva à Folha. Uma pauta dessa não caí todo dia no colo de um jornalista. A entrevista ficou marcada então para a segunda-feira, as 9h na redação do jornal.
Logo pela manhã entramos em contato com Brinquinho para confirmar a entrevista e tivemos o primeiro imprevisto. Relatando estar correndo risco de vida, Brinquinho se nega a ir à redação e pede que a equipe vá ao seu encontro. Sem hesitar, entramos em um veículo do jornal com um fotógrafo, que logo se transformou em motorista, um cinegrafista e o jornalista e logo fomos ao encontro dele, em uma rua próxima ao Fórum de Ribeirão Pires.
Com uma calça bege, boné e uma aparência abatida e pálida, Brinquinho foi logo reconhecido pela equipe quando chegou ao local.
Ao entrar no veículo, mais um entrave apareceu. O acusado disse que não falaria às câmeras e que não seria fotografado. Pediu também para que a entrevista acontecesse a caminho de Santo André, em um local onde pegaria alguns documentos importantes sobre o processo para comprovar a sua inocência.
No caminho Ademir Miranda contou com detalhes sua visão sobre toda a polêmica que chocou a região. Declarou-se inocente de todas as acusações e apontou possíveis culpados e inocentes.
Ao chegar ao local apontado, Brinquinho pediu para que a equipe espera-se dentro do veículo. Ele iria até um local onde iria retirar os importantes documentos a serem mostrados ao jornalista mais tarde.
Horas se passaram e Brinquinho não aparecia. O medo de uma possível perda do inédito material juntava-se pouco a pouco com a fome e o cansaço.
Foi aí então que, ao longe, Brinquinho apontou. A passos largos e rápido, e com os papéis nas mãos, Brinquinho caminhou rapidamente até o carro de reportagem.
Logo que entrou, Brinquinho mudou sua opinião sobre as fotos e as filmagens. Para a nossa sorte.
Após fotografar-lo enquanto conversava com o jornalista, o fotógrafo começou o caminho de volta para Ribeirão Pires. Ficou decidido então que Brinquinho faria a entrevista durante o percurso, mas que ficaria em Mauá para ir até o seu advogado.
O agora então motorista conduziu o veículo pelas sempre tão movimentadas vias com o máximo de cautela possível: Qualquer movimento brusco colocaria a qualidade da gravação em risco. O cinegrafista por sua vez viveu momentos de tensão. Como gravar uma importante entrevista dentro de um carro em movimento, e com tantas variações de iluminação e velocidade? Achamos que nem ele sabia, mas o fez e com maestria.
Já o jornalista tinha nas costas sem dúvidas o maior fardo. Entrevistar um importante elemento de um caso tão fomentado como esse é alvo de 11 entre 10 jornalistas. O fato do carro ir vagarosamente também ajudou, mas pode ter atrapalhado sua vida. Quanto mais demorava, mais ele tinha o que perguntar para Brinquinho. A cada questionamento, o acusado respondia sempre com variações de tonalidade, o que deixava ainda mais toda a equipe envolvida na trama. Por fim chegamos à Mauá, local onde Brinquinho saltou e prometeu lutar por sua liberdade enquanto estiver sob proteção do hábeas corpus concedido pelo tribunal. Reportagem concluída.
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